Alentejo envolvente
de bailarinas espigas
fortes, grossas e esbeltas
ruburizantes, ao sol de estio…
Por sãos caules ostentadas
bordando campos e horizontes
suando labor
inspirando esperança!...
Alentejo brando e bravo
de saber, sabor e temperança!...
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Quem és tu?
Quem és tu, pretenso sábio, para me julgares?
Tu, de alma amargurada, que destilas indiferença e dor,
dor que não mata, mas magoa, desfigura e fere.
Respiras raiva, ódio, dor, despeito e agonia
e absorto, embrenhas-te a gastar tua vida
que já não sei se presta…
Fermentas a dor e amplias a tua solidão,
nessa agonia imensurável e tão nefasta.
Talvez por temeres que caia teu pano…
Talvez por temeres ver-te por outros olhos…
Talvez por sentires…
Não! Porque tu não sentes…
A tua alma exasperada arrasta-se pala vida
nesse teu destino inconfundível e bizarro.
Aras insensibilidades cortantes e infinitas.
Derretes o teu tempo agonizante
numa inebriante orgia dos sentidos,
numa qualquer noite vazia de calor e de luar
perfumada pelo cheiro macilento da borrasca infernal.
Transpira em teus poros o tempo agonizante
onde te perdes, em palavras, até mais não…
Aparências…
Talvez o pássaro branco seja a máscara da insensatez…
Afasta de mim o mal querer!
Afasta de mim a alma amargurada!
Afasta de mim a dor que desfigura e fere!
Afasta de mim a agonia nefasta!
Afasta de mim! Tudo o que esconda
afasta de mim…
Eu…
Quero apenas embriagar-me de vida e de saber,
quero apenas ver a borboleta que esvoaça meneante
voando como pena solta
na brisa doce que me envolve ao pôr do sol…
No fim de tudo, o que resta além de nada?
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Eu quero ser um pato bravo e voar para sul!
Não consigo vislumbrar um germinar
ainda que de hera…
As lágrimas que brotam dos olhos
perturbam a visão…
Há lágrimas que vagarosamente britam o rosto
e se aninham nas rugas feitas socalcos do tempo…
Assiste-se ao êxodo da sensatez
que ruma na direcção do vento,
que marcha à luz crua da lua,
e de um sol fanfarrão,
exibindo o pavonear de mãos cheias de nada,
na esmerada perfeição dos olhos eternos de uma escultura,
num exército a passo de ganso…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Abandonai a noite medonha e feia
estimada como preciosidade!
Que não medrem mais as faíscas gélidas
que aplaquem o desespero das almas famintas de luz
que cesse, na alma, a chuva estupidamente persistente
parecendo não abandonar o céu!
Deixai a pomba branca
partir rumo ao pôr-do-sol
onde um brilho de alegria, bailarino perfeito,
começa a florir
nos conquista e encanta
e proporciona um espantoso cenário…
Olhai a vida
como um navio de luz resplandecente
a rasgar as águas deste rio doirado…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Apartai as pálpebras.
Descerrai o véu.
Olhai,
o vento gélido a chicotear as árvores
que se manifestam
num balido amedrontado,
num bramido pasmado.
Urge um rebelar contra as rosas de amianto,
urge, o não olvidar uma vida de nada,
urge o não pasmar
ante cristais de gelo penetrantes,
urge uma surpresa lúcida,
urge,
urge,
urge…
Baptizai a vida com um baptismo de primavera
mas não adormeceis
num arsenal de flores…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
A vida dorme na sarjeta, contemplando a solidão!...
A solidão no seu silêncio gritante,
num desabafo urbano…
A cidade grita!...
À força da raiva e da vontade
procuro respostas em forma de palavras,
tal é o compromisso com o alfabeto…
E elas surgem,
hesitantes com o peso da culpa…
Quero esquecer a cidade!...
Quero o Alentejo casto, tranquilo e sonhador,
ébrio de sol…
A maciez pincelada de crepúsculo…
O azul é maior e a noite dissipa-se,
o verde é mais verde…
As cores acordam
tal xaile de retalhos com as cores do arco-íris
toando um cântico de sol…
Preciso dessa luz que rasga e dilacera a solidão…
O meu ninho de sonhos
repousa nos braços de uma azinheira…
E se eu fosse ver, comigo, o sol nascer,
espreguiçando o rutilante imaginado…
Os planos brilhantes sucedem-se
entre espigas de silêncio, cruzando o espaço…
E sinto que se prolongam
as palavras de ternura da madrugada
na harmonia do bulício da folhagem ao ritmo do vento…
Sussurra o orvalho
tal prelúdio de um beijo…
E no irrequieto acordar do ribeiro
miro o meu rosto que dança,
reflectido na água…
Quero desenhar em meus olhos
a azáfama sonolenta do orvalho de aurora
na heróica planície
onde toco as nuvens e sinto a paz
que me transporta de mansinho
em pétalas soltas de poesia…
E vou além do infinito…
Infinitamente sedutora
e com lânguidos e alvos risos murmurantes
com beijos húmidos de espuma
retiro a poesia de um bolso
e imortalizo um império de sonhos…
Descasco as palavras e saboreio-as…
seu sabor
é o timbre de canoras carícias…
E prendo o olhar no horizonte
que emana do céu azul celeste!
Mas regresso ao vento que, ao soprar, me murmura destroços…
À cidade que grita!
Porque a maré,
Acaba sempre por voltar…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Conduz-me pela música
com teus movimentos de linguagem poética
gestos que seduzem
e despem a alma
envolve-me em acordes de ternura
hipnotiza-me com tua pele que exala sensualidade
tua mão aberta sobre as minhas costas desnudas
embota-me
quando me desenha a linha
dança comigo a sinfonia da ternura…
lábios procuram o pescoço
uma voz quente cicia ao ouvido
ensandeço…
suspiros…
carícias…
o beijo em silêncio…
dança comigo
Edite Gil
(Registado no IGAC)
NA TAL…
É Natal.
Natal!...
É na tal noite
natividade
em que o Menino nasceu
nessa noite em que a estrela riscou o céu
que os homens renovam os votos…
É na tal noite
que a palavra amor dança de boca em boca
mas gela no coração,
que a palavra perdão baila nos lábios
mas não baila com eles,
que a palavra oração, olvidada,
não é mais que mera palavra.
Na tal noite
natividade
que seja na tal noite
na tal noite
que seja Natal
Edite Gil
2009.Dez.20
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